Sobre sair de casa (por mais perto que seja)

Para ser bem sincero, não sei quantas vezes já li, pesquisei, mandei e-mails, fiz o possível e o impossível para sair de casa. Não digo fugir de casa, aquela coisa de guri de onze anos que fica brabo quando a mãe tira o videogame. Digo de sair da zona de conforto, descobrir o mundo, viver o que o mundo tem a oferecer além da rotina casa – trabalho – faculdade – casa. Ser um cidadão do mundo.

Esse não é o primeiro, nem o último, post em que falo da rotina que acabamos caindo dia após dia, e só percebemos isso depois de muuuuuuuuuuuuito tempo, quando já é tarde demais para voltar atrás. Mas claro, só depende de nós mesmos fazermos um dia diferente dos demais. Esse também não é o primeiro, nem o último post, em que não sei exatamente onde quero chegar. Sei que tem duas histórias para contar, a primeira que aconteceu cerca de trinta minutos atrás...

Amanhã, mais precisamente hoje, sexta-feira 23 de março, estou indo para Porto Alegre, retornando no domingo em horário e trajeto ainda não definido. Eis que a ideia inicial era: sair de Caxias 18h30, junto com outros escoteiros, chegar em POA, ir para a sede dos EscoteirosRS onde vai ter o Fórum de Jovens, e de lá ir pro Grupo onde vai ter HOHO. Porém, numa tentativa da maior cara de pau que todo estudante de jornalismo deve ter, entrei em contato com o Executivo Regional da RBS e o professor da Disciplina da qual estou fazendo esse semestre, e que tem um convenio com a RBS, pedindo se haveria a possibilidade de ir sozinho visitar a redação da Zero Hora ou da RBSTV em Porto Alegre e acompanhar um dia do trabalho do pessoal por lá. Na falta de resposta nas primeiras cinco horas após mandar o email, enviei dessa vez diretamente para a Diretora de Redação da ZH que deu uma palestra para a turma na quarta-feira, 21. Em dois minutos ela me respondeu, encaminhou o email de outra pessoa e hoje a partir das 13h posso ir na ZH para essa oportunidade única, que com certeza vai trazer muito conhecimento, experiência e a possibilidade de conhecer novos lugares e novas pessoas. E claro que minha mãe não gostou da ideia. Segundo ela vou perder meu tempo indo lá agora no meio da faculdade, vou ter que faltar um turno de trabalho o que é o fim do mundo, e vou me desgastar indo para POA fazer isso e ainda no final da noite ter o Fórum de Jovens. E aqui entra uma opinião muito particular sobre como as pessoas (as vezes digo que são apenas os caxienses, mas para não generalizar digo as pessoas) vêm o mundo.

Aqui (em Caxias) faltar um período de trabalho, não importando o motivo, é o fim do mundo. Onde já se viu em horário comercial estar correndo no parque, em casa tomando um café, inverter a escala de trabalho e aproveitar um dia de folga quando for necessário. Isso é crime, devemos trabalhar, trabalhar, trabalhar, sob sol, chuva, granizo, no sábado de manhã, a tarde, e se tiver muita coisa pendente até no domingo. E obviamente tem que ter carteira assinada, para provar que trabalha. Minha opinião: quem dera se pudéssemos viver uma vida mais calma, onde trabalhássemos com o prazer de poder desfrutar de momentos de lazer sem que os mesmos envolvam o que fazemos profissionalmente ou tenha alguém nos julgando por não estarmos trabalhando no horário de trabalho.

Carteira de trabalho? Vejo como um atestado de prisão ao emprego em que se encontra. Quantas vezes já ouvi “porque ficar mudando vai sujar a carteira dai ninguém contrata”. Ooh bom, então faço um portfolio online, apresento meu trabalho, adquiro novas experiências e segue o baile. Não vai ser um livrinho azul que me prende à rotina. Sim, posso estar exagerando – provavelmente estou – mas hoje em dia não vejo tanta importância nisso como a história conta que era antigamente.

Enfim, para mim o fato de faltar um turno de trabalho não justifica em nada em como isso possa ser ruim, devido a oportunidade que surgiu de acompanhar um profissional da área em que estudo e pretendo me profissionalizar. Hoje mesmo em uma reunião na Agência da UCS os professores comentavam que em um mundo como o da comunicação, o que realmente importa é o nosso nome, a nossa reputação. E ninguém vai te conhecer, ninguém vai lembrar de ti, caso você não se mostre aos olhos dos demais. Agora se coloque no meu lugar: com toda a iniciativa, interesse e pró-atividade que pouquíssimas pessoas têm hoje em dia, vou ficar uma tarde no trabalho fazendo o que faço todos os dias ao invés de aproveitar uma oportunidade como essa que surgiu? Obviamente que não.


Muitos dos amigos e conhecidos que tenho, os considero “pé no chão”, uma expressão que muitas pessoas amam, mas que particularmente detesto. Maldita a gravidade que nos prende ao chão. Aaah se tivesse como voar, aparatar, usar Pó de Flu! Pés no chão são aquelas pessoas que estão felizes com o trabalho garantido, a carteira assinada, o namoro, a casa, o carro, um happy hour na sexta-feira no final da tarde... olha que bom pra vocês, eu realmente ia adorar ser assim. Mas, felizmente de minha parte, ainda bem que não sou. Pouco me importa o que citei anteriormente, o que me interessa é saber que existe um mundo lá fora com 190 países, 7 bilhões de pessoas, zilhões de oportunidades de conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas, novos trabalhos, novas realidades, e porque não como diria uma colega das aulas de quarta-feira, novas novidades. Sou viciado em novidades, eu preciso delas. Preciso me renovar musicalmente a cada quinze dias, televisionamente a cada mês, mudar as fotos dos avatares a cada vinte dias. O mundo evolui, as coisas mudam, as pessoas passam, as oportunidades surgem e ficar com os pés no chão é a pior coisa que pode passar pela minha cabeça.

Imagine aquelas cenas de filmes e propaganda onde tem uma pessoa correndo, e a câmera só filma a pessoa na cabeça, de perfil. Atrás da cabeça há uma paisagem passando, e ela vai mudando conforme a pessoa vai correndo, dando a impressão de que é uma rua, e a pessoa corre e a rua segue. Entretanto, ao tirar o zoom da cabeça e pegando o corpo todo, percebe-se que a pessoa corre em uma esteira e a paisagem nada mais é que um vídeo passando. É mais ou menos assim que as vezes vejo o mundo, uma corrida frenética em uma única direção sem estar na realidade correndo ao ar livre, vivendo!, é tudo artificial, tedioso.

E falando então em oportunidades, chego à segunda história que ia falar nesse post. A QUASE viagem para a Patagônia após o Jamboree da Argentina. Como disse no post anterior, não escrevi uma linha sobre a viagem e o Jamboree, então nada melhor do que começar pelo final. Para começar assiste o vídeo abaixo. Assisti ele ontem a tarde, e claro me fez lembrar da QUASE viagem para o fim do mundo...


Entonces, en ultimo dia del jamboree, ha surgido la oportunidad de viajar hasta Patagonia... Uma ideia de malucos, sim! Não é a toa que nesse momento to usando a camisa do Mutirão Pioneiro de Esteio e na frente tem escrita a frase “loucos que mudaram o mundo”. Eu sou escoteiro, e faço parte das 30 milhões de pessoas malucas que mudam o mundo.

No último dia de Jamboree surgiu a ideia de estender a viagem na Argentina e ir para a Patagônia. O curioso disso tudo foi que em questão de horas tudo acontecia de forma que isso fosse dar certo. Estávamos eu e o Pioneiro Felipe de São Paulo pensando em fazer essa viagem, e cada pessoa no campo com quem conversávamos, incrivelmente moravam no sul do país, a caminho da Patagônia. Nada planejado, nada estudado, apenas conversando e já tínhamos casa, comida e contatos por todo o território argentino para realizar essa loucura. Voltando a barraca fui ver quanto ainda tinha de dinheiro, pensando que teria pouco, ainda me restavam R$960,00 na mochila. Ou seja, no câmbio dos pesos argentinos eu estava rico. Passagem aérea de volta já tinha, só teria que mudar a data. Companhia para a viagem também. Fácil seria se a vida fosse uma música e essa fosse o Canto Alegretense, “não me perguntes onde fica o Alegrete – nesse caso Ushuaia – segue o rumo do teu próprio coração”.


Portanto, tínhamos TUDO e ao mesmo tempo NADA para chegar até a Patagônia. TUDO são todas essas coisas que disse anteriormente, NADA era o que no meu caso seria fundamental, o ‘sim’ dos meus pais. Não fico brabo deles terem reclamado, de quase ter matado minha mãe do coração só falando da possibilidade de estender a viagem, o que me irrita e entristece até hoje é o simples fato de que perdi uma oportunidade única na vida. Por mais que minha mãe diga que essa viagem possa ser feita em outra ocasião, em circunstâncias como as que tinham não, essa nunca mais. Nunca mais estarei em clima de Jamboree como naqueles dois últimos dias, nunca mais falarei com as pessoas certas, na hora certa, no lugar certo, nunca mais encontrarei uma companhia maluca que tope fazer uma loucura dessas em devidas circunstâncias, nunca mais aquela oportunidade que deixei passar vai voltar a acontecer.

Sim, voltei pra casa. Eu poderia muito bem ter simplesmente ignorado e colocado a mochila nas costas e ido – não foram nem uma, nem duas pessoas que me disseram isso, foram várias, e continuam falando a cada vez que conto essa história. Porém, quem garante que me aceitariam em casa novamente ehehe. Ou pior, e aí está o que eu acho que é o maior medo dos meus pais, quem garante que eu volte quando disse que ia voltar? Eu tinha uma data para voltar do Jamboree, a ideia era ir para a Patagônia e voltar depois de 10 dias. Mas se lá na ponta houvesse um barco indo para a Antártida com uma vaga sobrando, bem provável que dali uma semana eu postasse fotos no Facebook alimentando pinguins na Base Cientifica do Brasil (aquela que pegou fogo). Pois como eu disse nos primeiros parágrafos desses post: existe um mundo lá fora para ser descoberto. E o escotismo me abre portas que nenhuma outra ‘coisa’ no mundo consegue fazer.

O que quero dizer com tudo isso? Hoje a tarde estou indo para Porto Alegre, sem saber onde, como, porque, com quem, o que farei ao conhecer ao chegar ZH ou o que for. Mas depois da Patagônia de uma coisa tenho certeza, não dá para perder as oportunidades ÚNICAS que aparecem. 00h59 e estou escrevendo a quarta página de word, fonte cambria, tamanho doze. Para quem ontem fez um texto meia boca no Blog para que voltasse a rotina de escrever, para um segundo dia já estar na quarta página é um bom começo.

E repare como nessa última frase me contradisse completamente. Começo o post falando mal da rotina, e agora digo que ‘volto a rotina de escrever’. Sério, nem eu me entendo, vai ver é por isso que esse é um dos posts marcados com a tag ‘loucuras’.

There is not a democracy anymore.

Não, esse post não é sobre política, é sobre The Walking Dead. O personagem principal cujo nome não lembra diz essa frase nos minutos finais do episódio. Terminei de assistir o último episódio da segunda temporada, aquele dos primeiros 17minutos de muita tensão. O detalhe é que comecei a assistir a primeira temporada faz dois dias e só vi até o terceiro episódio. Enfim, para entender melhor a história, nada melhor do que pular uns 15 episódios sem importar-se com o que acontece no meio de tudo. Afinal a história não passa de pessoas sobrevivendo, atirando na cabeça de zumbis, indo de um lado para o outro sem saber o lugar mais seguro para ficar. É como se hoje, 22 de março, eu pulasse alguns episódios lá pro meio de abril e continuasse nessa de tentar sobreviver, atirando na cabeça dos zumbis e indo de um lado pro outro sem sair do lugar.

Quando digo pular uns episódios é porque o que acontece no meio fica entediante, igual, sem sal, sem gosto, artificial que nem cortina fechada em dia de sol e ar condicionado ligado (já disse o quanto detesto os dois últimos?). Então é mais ou menos assim que minha cabeça tem trabalhado nos últimos dias. Fazendo cosplay de Zumbi. \o/ Nessa de se arrastar, procurar por uma motivação em meio ao caos, algo para se alimentar e evitar levar um tiro na testa. Sim, não é o fim do mundo, esse só em dezembro.

Minhocas na cabeça, conhece essa expressão? Então, se não conhece acabei de inventar, não estou lembrado se já existe. Uma que já tem e diz quase a mesma coisa é “com borboletas no estômago”. Na verdade não sei de querem dizer a mesma coisa...

Depois de ler o último parágrafo entendeu porque minhocas na cabeça? Elas estão ali, ou melhor, aqui, entrando, saindo, tipo cabeça de zumbi depois de morto e os vermes fazem a festa. Duas observações: voltei a falar de zumbis, eu disse que o post falava de Walking Dead; “zumbi depois de morto” repare que escrevi isso duas frases atrás, me apresente um zumbi que não seja zumbi depois de morto e ganhe um pacote de 7belo.

00h14 de quinta-feira, 22 de março de 2012. E eu comecei o ano dizendo que ia atualizar o blog com frequência. Eis que até agora não escrevi uma linha sobre Jamboree, Argentina, Uruguai, Montevideo, brasileiros fazendo filas desnecessárias, albergues estranhos, primeira viagem de avião, perdido em Mar del Plata, viagem frustrada pra Patagônia e tantas outras histórias que te fazem querer voltar no tempo a cada segundo que passa. Esse mesmo segundo que gastei, depois de perdido é um gasto, assim como dinheiro mal aplicado. Continuando, os segundos que perdi na bolsa de valores do tempo servem para lembrar a maneira com a qual tenho utilizado cada um dos 86mil400segundos diários que temos direito. Quantos desses segundos já viraram passado ao som de “ai se eu te pego, delícia, delícia, assim você me mata” tal como os que estão passando pelo relógio nesse exato momento em que escrevo essa parte...

Ta, e os zumbis Gabriel, não vai mais falar deles? Vou sim, até mesmo porque amanhã estarei fazendo cosplay dos mesmos, não só pelas características ditas acima, mas principalmente pela cara de sono, acabado e com olheiras dignas de um campeão, um zumbi campeão, o que é para poucos. Esse texto não vai ter revisões, portanto sinta-se a vontade para não entender o que escrevi. Compartilharei contigo essa mesma sensação quando ler esse post em um futuro próximo.

Então, para terminar, vou pensando em outros posts, acrescentar mais itens a To do List interminável de coisas desnecessárias, continuar cantando Olly Murs por mais alguns segundos e torcer para que o dia de amanhã seja melhor que o de ontem e pior que o de depois de amanhã. E não pense que isso é pessimismo, já diz Tom Fletcher “just remember to smile, smile, smile...”. É só um período de inversão de valores – mentira – só não achei um termo melhor para usar. E como diria o xerife, this is not a democracy animore, algumas coisas têm que mudar...